quinta-feira, 19 de maio de 2011

"É umas mula esses jornalista"

(imagem do imprescindível Latuff)

O PIG/GLOBO quer nos emburrecer de vez. Ou são uns bolhas, ou estão muito mal-intencionados. E eu aposto que é o caso dos dois. 
E não está fácil de se suportar as pessoas repetindo que 'os livros do MEC ensinam a escrever errado'. Não aguento mais. E quando não aguento mais, venho vomitar meu asco aqui no blog. 
Esclareça-se que me refiro aqui à classe média, cuja vida resume-se em obedecer à moda da novela, ir a Miami, querer carro novo e pensar no próximo implante de silicone. Estes, podiam deixar de fazer da emissora aqui referida sua única janela para a realidade e investir mais em livros, estudos, viagens além da Disney World... Mas, é mais fácil reproduzir baboseira, né?
Pois bem. Então, quem está errado nessa história, além dos acima citados?
Errados estão os professores que, ignorantes à Linguística (por preguiça), corrigem o falar de seus alunos, às vezes até os submetendo a humilhações e castigos por conta de falares e gírias.
Errados estão os que pensam que para falar, para comunicar-se, é preciso norma.
Os mesmos que afirmam que Lula é um burro porque fala "errado". Como assim? Ele tem seu estilo, comunica-se muito bem, por sinal. Ou sua força política vem de onde? De seus belos olhos? Política é comunicação!
Se um estudante grita ao outro mais apressado, na saída da aula, "peraí qu'eu já tô ino", ou o mecânico diz ao seu ajudante "os carro branco tão tudo sujo", não há rede de televisão que me prove que há erro. Muito menos a histérica-jornalista-"linguista" Mônica Waldvogel, que quis reinventar a ciência da linguagem no programa "Entre Aspas", da péssima Globonews.
Fala não tem regra. Tem adequação. As pessoas não conversam entre si numa mesa de bar usando a mesma linguagem que usariam se estivessem numa reunião de trabalho. Ninguém se comunica numa entrevista de emprego usando a linguagem que usaria se estivesse pedindo uma cerveja no botequim. Um bom falante é o que sabe colocar-se bem linguisticamente em todas as situações, comunicar-se bem com qualquer um.
Existe norma para a escrita. E ela é aprendida lendo livros. Simples. Uma pessoa apreenderá o falar culto se for bom e assíduo leitor, e pode, ou não, usá-lo para falar.  
A língua escrita sim, essa é mutilada pela mesma classe média que hoje desce a lenha no livro do MEC. É a classe média que coloca a língua em maus lençóis todo dia, a toda hora, seja com seus trabalhos acadêmicos, com seus anglicismos e gerundismos. Esses, quando resolvem escrever, o desastre é quase certo. Esses sim, têm que ajoelhar no milho, levar uns cascudos e ficar no canto com o chapéu (as orelhas já vêm de fábrica)...
Clique aqui para ver a jornalista, economista, cientista política, metereóloga, astróloga, taróloga, esotérica e agora linguista sendo motivo de chacota de quem estudou um pouco disso...


PS: Errado está o Governo de São Paulo, que diz porque diz que a América do Sul tem dois Paraguais.



por Mastrandea 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Carteirada





(Surrupiado do excelente "Vento Na Cara")



Sempre que Alguém, ao dizer algo para Outro, quer que este lhe dê crédito, pode escolher entre duas estratégias.
Na primeira, Alguém apresenta ao Outro seus argumentos. O Outro então escuta os argumentos, refaz algumas conexões lógicas, confronta o que ouviu com as informações que tem sobre o assunto, confere tudo isso com seus valores pessoais e, ao fim do processo, o Outro decidirá se deve ou não dar crédito ao que Alguém diz.
Na segunda estratégia, Alguém apresenta ao Outro suas credenciais técnicas e sociais. Credenciais técnicas são títulos, certificados, habilidades, experiências profissionais. Credenciais sociais são as posições na sociedade, a quantidade e qualidade de amigos e contatos, as viagens que fez, os lugares em que morou, os consensos e palavras da moda utilizadas em sua fala. O Outro, ao reconhecer tais credenciais, se dará por convencido, e então não há necessidade de prolongar o assunto.
A esta segunda estratégia, dou o nome de carteirada.
Mais estranha que a frequência com que essa estratégia é usada é a frequência com que ela funciona.
Ela é mais rápida que a primeira, e traz “vantagens” para os dois lados. Nela, Alguém não tem o trabalho de selecionar e apresentar argumentos. Nela, o Outro não tem o trabalho de pensar se aquilo que está ouvindo faz sentido ou não, o que nem sempre é tarefa simples.
Com esta estratégia, não existe necessidade de o Outro ter informações e opiniões próprias sobre as coisas. Ele repetirá que Alguém é mesmo uma autoridade no assunto, afinal tem esta e aquela credencial. A discussão será dada como concluída, a interação social estará completa, ambos sairão sentindo que dialogaram.
Um bom observador irá constatar que a estratégia da carteirada é bastante comum, especialmente em alguns meios sociais.
É ela que explica, por exemplo, a necessidade de tanta informação curricular quando alguém é apresentado.
 
 
 
 
por Dionísio Bueno